28 de junho de 2008

OS MEUS BERÇOS

A minha avó Amélia comigo ao colo

Do meu berço não me lembro, nem sei se o tive, mas recordo-me de uma cadeira articulada de madeira que depois de mexida ficava uma cadeirinha com respectiva mesa para brincar.
Então quando o meu primo Pedro ia a minha casa era o nosso ponto de brincadeira, à vez ocupava-mos a cadeira com os nossos brinquedos. Sabes que ele às vezes era um pouco mau para mim, porque o seu pai era muito severo e não o deixava brincar à vontade, então quando estava comigo nas nossas brincadeiras era muito exigente. Tinha sempre a minha avó a pedir-me para eu ter paciência, mas eu ficava muito zangado com os arranhões que ele me fazia com as unhas.
Voltando aos meus berços, lembro-me do colo da minha avó e quando ela me convidava para ir brincar em cima da sua cama, que era muito grande, isto enquanto ela estava à janela e ao mesmo tempo velava pela minha pessoa. Era uma sala grande, com uma espaçosa cama de casal.
Gostava muito, porque tinha muito espaço disponível e muita luz. Das duas janelas desta sala via-se a entrada da Foz do rio Douro até Sobreiras, local de uma curva do rio para a esquerda seguindo-se um sitio chamado Massarelos. Via-se os Navios que passavam, os barcos pequenos (os botes), o Marégrafo local de sinalização dos Pilotos para os Navios, o Salva-Vidas que servia principalmente para ir salvar pescadores cujos barquitos se viravam nas águas do rio procurando vencer as correntes com o peso das suas redes de pesca. As lanchas dos Pilotos e outras coisas que irei tentar falar-te.
(voltarei a falar deste quadro, que além do mais, foi o local onde pelas primeiras vezes, aprendi alguns dos valores da vida)
Como deves imaginar as casas antigamente eram grandes e o mobiliário também.
Uma "foto" dessa sala que ficava no andar de cima será: uma cómoda muito grande com grandes gavetas, um pequeno móvel onde estava um rádio e outras coisas, a tal cama de que falei, duas mesinhas de cabeceira, duas ou três cadeiras e mais duas coisas altas quase da altura de um adulto, creio que lhe chamavam "colunas" imagina umas mesas com umas pernas muito altas e que o tampo não é maior que o diâmetro de uma bola futebol. Tudo isto em madeira de cor castanha, com muitos relevos e sendo peças muito pesadas. Ah...faltava falar do guarda-vestidos (agora guarda-fatos) que não era do mesmo estilo do restante mobiliário, mas tinha um espelho externo com que comecei a avaliar as minhas próprias palhaçadas, danças, e....mais tarde a vaidade de rapazinho levava a pentear-me vezes sem conta à sua frente.

ERA ASSIM


Uma traineira entrando na Foz do rio, era mesmo de ás vezes se ficar com a respiração suspensa.

23 de junho de 2008

RETRATOS DA MINHA INFÂNCIA - 1





Nasci num local lindo que se chama FOZ DO DOURO, como o próprio nome indica, o sitio em que o rio Douro se encontra com o Mar. Havia barcos de todos os tipos, campos, mato, fábricas, Pilotos, Marinheiros, Pescadores, Operários fabris, Lavadeiras e muitas outras actividades laborais.

Faz um canto a casa onde nasci, era da minha avó materna Amélia.

A porta de garagem era uma janela, o andar de cima era recuado.

O passeio vinha só até à árvore que nunca lá esteve. E na casa vizinha côr de rosa, a porta de garagem era uma loja de tecidos, linhas, material de pesca, e mais importante !!! brinquedos, que hoje só os verás no Museu do Brinquedo. Lá morava a Dª Esolina (?) avó do Zé Manel, que era da minha idade e com quem brincava à porta das nossas casas. E como os nossos quintais eram separados por um muro, podia ir para o quintal dele porque eu tinha uma janela da qual bastava dar um passo para a borda do muro e saltar. Mas ele não podia, porque do meu lado se caísse era muito alto. ah!ah!.

E pormenor muito interessante, um local que era exactamente a "fronteira" entre as pessoas pobres e as ricas que se chama CANTAREIRA. Mais à frente explico-te a origem do nome.

Rodeado de barcos de todos os tipos (na época). Barcos de pesca como as Traineiras, era vê-las da minha janela a sair a barra (Foz do rio) a meio da tarde para a faina da pesca à sardinha. Os barcos a remos dos pescadores que iam largar as suas redes pequenas ( os Quartos ) ao correr do cais da marginal desde os Pilotos até ao Cais Velho para a pesca da Solha e do Robalinho.

Mas também o bailado destes barcos no rio, e das Bateiras (barcos com a proa pontiaguda, parecidas com os moliceiros) à pesca do Sável, um peixe muito saboroso, que só se pesca no principio do ano.
Era um bailado quando subiam um pouco pelo rio acima, largavam as redes (Tresmalhos) e depois vinham a acompanhar a rede até à foz do rio ao sabor da corrente, aonde recolhiam a rede com o peixe antes de entrarem por mar dentro.
Era uma festa, quando havia muito peixe (tantas vezes...) as pessoas e as crianças juntavam-se nas Linguetas (rebançeiras da borda do cais até ao nível da água) e os rapazinhos incluindo eu andava-mos numa azáfama a ajudar a descarregar o peixe para os caixotes para depois as mulheres irem vender.
Mas também havia pessoas, mais ricas que iam até ao local para comprar o peixe directamente aos pescadores, e então o avô às vezes levava o peixe até aos automóveis desses senhores e ganhava 5 tostões que dava para comprar uns caramelos de açúcar ou um queque de amendoim.

Quando os pescadores mais velhotes, com quem convivíamos mais ou nos conheciam melhor, por vezes lá nos davam um Sável, então a minha mãe ou a minha avó, fritava e com arroz de ervilhas dava umas ricas e saborosas refeições.
Ai meu Menino há tantos anos que não saboreio Sável frito... e de escabeixe para o dia seguinte...

Já agora... o Sável é um peixe grande, enorme para um rapazinho, que vem desovar aos rios.

E as Traineiras, vê-las sair a barra, às vezes parava o meu coraçãozinho... vencendo aquelas vagas parecia que desapareciam atrás delas. Isto acontecia junto ao Farolim (farol da barra) e só ficava fora de tensão quando as via a navegarem já em águas mais serenas do mar ao largo da costa.



Meu menino, não sei exactamente como vou começar, e a indicação que te deixo por agora é que tudo que se seguir não tem uma ordem cronológica da minha vida.


Há coisas que estão já desfocadas na minha mente com 57 anos, mas que a sua importância permaneceu.


Também não sei se, e quando irás ler o que o que aqui irei expor para ti. Porém vou providenciar para que o endereço deste Blog chegue ao teu conhecimento quando tiveres mais idade, porque ainda somente tens seis anos.
Um beijinho.
P.S. este desenho foi feito pela Isabel, esposa do -Zé; lembras-te dele ??